Por que precisamos apontar o caminho do Lixo Zero para as empresas?

Artigo desenvolvido pela Carla Hoffmann e publicado pela NEOMONDO

O lançamento, no último dia 10 de abril, do Primeiro Anuário de Certificação Lixo Zero, uma iniciativa da Zeros, que conta com mais de 80 organizações em 2023, trouxe também um termômetro sobre os caminhos que o Brasil tem seguido com o objetivo de atingir as metas da agenda sustentável. Ao todo, analisando as empresas certificadas, no ano passado foram gerados 85.4 milhões de toneladas de resíduos, sendo que 10.9 milhões de toneladas foram recicladas e 72.3 milhões de toneladas foram para compostagem.  

Para além de uma realização pessoal de lançar o anuário durante o primeiro fórum “A Nova Economia é Lixo Zero”, considero este momento e este evento como pontos de virada, uma bússola capaz de apontar e consolidar, de vez, as possibilidades que temos de caminhar para uma economia realmente sustentável e mais regenerativa – atuando numa produção inversa à extração de recursos naturais, gerando vida e novos caminhos para os processos de produção que hoje se encontram em confronto com os interesses de sobrevivência do planeta e da humanidade.

Enxergo o Brasil hoje como um pólo com potencial de protagonizar essa jornada incrível, e players realmente comprometidos em apontar o caminho do Lixo Zero, para que as empresas que ainda estão em transição ou mesmo para aquelas que não sabem bem por onde começar a enxergar as mudanças de suas matrizes de produção, possam ver nessa semente da Indústria que estamos trazendo, as alternativas possíveis para uma transformação realmente sustentável. 

Essa potencialidade apresentada logo de cara, tem a intenção mesmo de fazer com que uma nova estrada seja trilhada, para podermos mudar um cenário que traz uma produção de lixo no Brasil de 343 quilos por habitante anualmente, sendo que apenas 4% passam pelo processo de reciclagem, segundo dados da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).

A formação de um verdadeiro ecossistema de conversão dos resíduos e um reaproveitamento massivo de materiais, não apenas torna o mundo mais saudável e habitável, mas também abre uma oportunidade para uma geração inteira que já está consciente das necessidades que temos e que são urgentes para deter as catástrofes climáticas e ambientais que se avizinham.

Quando falo de transição econômica e me motivo por fundar o Movimento Nova Economia é especialmente pelas oportunidades de geração de um ambiente econômico mais saudável, menos nocivo a natureza e com muito potencial de inclusão produtiva a partir dos próprios desafios. A colaboração e a intersetorialidade do Movimento permite observarmos que o problema de um eixo econômico é a solução do outro. Isso ficou evidente ao abordarmos, no eixo econômico Indústria a perspectiva de gestão de resíduos, trazendo exemplos de empresas regenerativas que estão transformando a cadeia com relação a profissionalização da gestão dessas atividades ainda marginalizadas, tecnologia e até indústrias regenerativas que tem o resíduo reciclado como matéria prima. O fomento dessas empresas, seja a partir de programas, finanças regenerativas e ações de expansão e projeção como essa, gera valor econômico para o resíduo, que retorna em dignidade produtiva e oportunidade de desenvolvimento e reconhecimento do potencial empreendedor do país.      

O Anuário nos mostrou que a transformação já está ocorrendo, pois dentre as unidades certificadas que aparecem no documento, as que apresentaram os maiores índices de desvio de aterro sanitário foram a Volkswagen (unidade Vinhedo – Centro de distribuição), com 99,9%, seguida pela  Casa Cor (edição 2022), com 99,7%, pela Convenção de Vendas Nestlé (edição 2023), com 99,3%, e pela Gomes da Costa embalagens, com 99,2%. Com relação às tecnologias de tratamento e encaminhamento mais utilizadas, o documento aponta que a reciclagem foi a mais utilizada, com 92%, já a compostagem ficou em segundo lugar, com 75%, o coprocessamento em terceiro, com 57%, a logística reversa em quarto, com 25%, o tratamento de efluentes em quinto, com 20%, e a biomassa em último, com 8%.

O registro desse marco que realizamos para a indústria regenerativa trará à tona discussões importantes sobre as oportunidades de desenvolvimento econômico a partir dos resíduos, observando a importância e o nível de maturidade tecnológica no Brasil e no mundo para viabilizar o reuso, também aponta cases disponíveis no mercado, desenvolvidos a partir do lixo por indústrias regenerativas de impacto positivo – nos mostrando do quanto já somos capazes. 

Está na hora de acelerarmos a marcha da restauração do planeta, antes que o relógio das mudanças climáticas avancem mais que nossos esforços. Temos força e coragem para encarar esse grande desafio e, a partir dessa semente da Nova Economia, nossa contribuição será rumo ao Lixo Zero. 

*Carla Hoffmann, CEO da AWA Growth e fundadora do Movimento Nova Economia.

Sobre a AWA

A AWA Growth é uma empresa brasileira comprometida com a transformação e o crescimento sustentável das organizações na Nova Economia. A empresa atua como uma consultoria que fomenta negócios para companhias regenerativas com o objetivo de que elas tenham mais espaço de mercado, e resolvendo seus problemas de comunicação para educar clientes, consumidores e investidores. A AWA auxilia organizações que querem iniciar no movimento da nova economia, seja por meio do desenvolvimento de mentalidade com workshops, fóruns e treinamentos, a comunicação interna e externa e também no acesso ao capital por meio dos investimentos.